Valquir Aureliano – Mercado de confeitaria foi um dos que conseguiu se reinventar e sobreviver

Já cantava Tim Maia, no clássico “Azul da Cor do Mar”, que “na vida a gente tem que entender/ que um nasce pra sofrer/ enquanto o outro ri”. Em meio à pandemia do novo coronavírus, a situação não tem sido diferente. Vidas perdidas, empresas falindo, pessoas perdendo o emprego… Mas a crise (em especial a econômica) não é para todos. Mesmo que seja uma minoria, ainda há empresas e setores que estão conseguindo lucrar e crescer mesmo na conjuntura atual. Metaforicamente, enquanto a economia como um todo anda em marcha ré, alguns segmentos estão conseguindo trafegar em frente.
Algumas situações são até um tanto lógicas, esperadas. Afinal, com as pessoas mais tempo dentro de casa, saindo só quando necessário (ao menos em tese), naturalmente serviços relacionados à vida à distância apresentariam crescimento. Foi o caso de empresas como o iFood, que chegou a registrar uma média de um milhão de entregas por dia, e também da Amazon, que recentemente anunciou a abertura de mais três centros logísticos no Brasil, para facilitar a chegada de produtos a todos os municípios do país.
No Paraná, conforme dados da Secretaria da Fazenda, divulgados no boletim “Impactos da Covid-19 nas vendas e no ICMS”, dois setores do comércio varejista aparecem com destaque positivo: o de equipamentos de áudio, vídeo e eletrodomésticos, que entre janeiro e setembro teve aumento de 15% nas vendas (na comparação com o mesmo período de 2019), e o de hipermercados e supermercados, com alta de 10%.
Por outro lado, os segmentos mais impactados negativamente pela pandemia foram restaurantes e lanchonetes (-35%), calçados (-32%), vestuários e acessórios (-26%) e veículos novos (-15%). No caso do mercado de automóveis e motocicletas, em setembro já houve um esboço de reação, com alta de 3% nas vendas. Nos outros casos, entretanto, o tombo variou entre 10 e 29% na comparação com o mesmo mês de 2019, indicando a persistência dos efeitos negativos da pandemia sobre esses segmentos.
Mercado dos doces se adapta e mantém demanda
No Paraná, um dos cases mais curiosos e bem sucedidos de ‘reinvenção’ em tempos de pandemia é o de mercado de confeitaria, bolos e tortas.Tradicionalmente, o setor tem grande parte da sua demanda relacionada à realização de grandes eventos. Com a proibição de aglomerações, contudo, a saída foi apostar em festas na caixa, pequenas comemorações e no envio de açucarados presentes para adoçar o dia de alguém querido.
De acordo com a chef Karen Ranalli, professora do curso de Cake Design do Centro Europeu, o que houve foi uma adaptação do cardápio oferecido ao mercado, já pensando em pequenas comemorações e datas comemorativas como Dia dos Namorados e festa de Arraiá.
“Novos cardádios surgiram para atender festas reduzidas em casa. Comemorar datas especiais foi necessário e demuito mais valorpelomomento que vivemos e também presentear quem amamos enviando doçura e um cartáozinho que escrevemos à mão e entregamos com carinho. Por isso não tivemos uma queda mais brusca. Claro que reduziram os pedidos, mas a procura aumentou, já que as famílias estavamem total isolamento, consumindo mais dentro de casa”, explica a chef, ressaltando que o setor tem conseguido se manter no mesmo nível de 2019.
Recentemente, inclusive, o Centro Europeu, escola referência em gastronomia na América Latina, lançou a 6ª edição do curso de Especialização em Cake Design, com as principais técnicas em Pâtisserie Design da Europa. O curso ensina as novas técnicas e conhecimentos alinhados com as principais tendências do mercado, com aulas 100% práticas e duração de uma semana.
“Este é um ótimo momento para ingressar no mercado, seja por necessidade de trabalho ou para fazer uma renda extra. Produtos de qualidade têm seu espaço garantido, existe um mercado para todos. Basta planejar e estudar seu público, agregando sempre conhecimento a investimento inovador e cursos de aperfeiçoamento”, complementa a professora.

Turismo despenca e transporte por fretamento sofre
Por outro lado, o mercado de transporte por fretamento segue em busca de solução para a crise que se instalou no setor com a pandemia. Altamente relacionado ao movimento turístico nas cidades, o setor chegou a ver cair em 95% a demanda por serviços e até hoje, quase oito meses depois dos primeiros casos de coronavírus no país, ainda engatinha para se recuperar.
Segundo André Willy Isaak, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros por Fretamento de Curitiba e Municípios do Paraná (Sinfretiba), o ano de 2019 foi de crescimento para o setor e o começo de 2020 trazia expectativas ainda mais positivas. Mas aí veio a pandemia e tudo mudou. “Com o isolamento, os principais pontos turísticos foram fechados, não teve mais visitação. E nós dependemos da movimentação no turismo, então também fomos muito impactados”, relata.
Desde o final de agosto, uma recuperação lenta, um tanto tímida, começou a acontecer. O que tem ajudado, afirma Isaak, é o turismo regional. “É o famoso ‘bate e volta’, pessoal sai de um lugar, vai passar odia numa cachoeira, numa chácara, e volta final da tarde”.
Mais recentemente, foi ainda lançada pelo Sinfretiba a campanha “Fretamento: muito mais que um transporte”. O objetivo é chamar a atenção da sociedade sobre a importância de se socorrer as empresas do setor. “Se fala das companhias aéreas, das empressas de transporte público rodoviária, mas não se pensava no transporte de fretamento, no turismo”, afirma o presidente do Sinfretiba, ressaltando que utilizar um serviço de transporte por fretamento, seja no transporte para o trabalho ou no turismo, traz vantagens diversas para contratantes, usuários e para a sociedade como um todo, com a redução de consumo deenergia e emissões de poluentes, melhor uso do espaço viário e a diminuição de acidentes, por exemplo.

Exportações paranaenses voltam a registrar queda
As exportações do Paraná têm apresentado instabilidade em 2020. Depois de um mês de alta, o resultado de outubro, divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia, voltou a cair. Ficou em US$ 1,32 bilhão em produtos exportados em outubro. O valor é 15% menor do que o registrado em setembro e 6% abaixo do de outubro de 2019.
Os meses de agosto e maio também tiveram resultados negativos tanto em relação ao mês anterior quanto em relação ao mesmo mês do ano anterior. Já as importações somaram US$ 868 milhões em outubro. Com isso, o saldo da balança comercial paranaense ficou em US$ 455 milhões no mês.
A venda de soja para o exterior foi o que segurou o resultado positivo no saldo da balança comercial em outubro, chegou a US$ 276 milhões, segundo o estudo.