Acordo Mercosul-UE beneficiará Brasil e Alemanha, mas é preciso pressa para internaliza-lo

Tratado impulsionará as relações econômicas entre os dois países. Acordo para evitar dupla tributação entre as duas economias também é prioridade

A entrada em vigor do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia impulsionará as relações econômicas do Brasil com os 27 países europeus. Brasil e Alemanha poderão ser os maiores beneficiários desse acordo, com reflexos positivos no aumento dos investimentos bilaterais e no comércio de bens e serviços de alto valor agregado, desde que haja vontade política e urgência na aceleração da assinatura e internalização desse acordo.

O diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Abijaodi, explica que Brasil e Alemanha, em especial, enxergam no tratado com a União Europeia ganhos em três grandes áreas: na economia, no desenvolvimento de uma política de sustentabilidade e no cenário geopolítico.

O acordo está previsto para ser implementado em sua totalidade em 15 anos. Assim, quanto mais rápido ele entrar em vigor, melhor será para os países.


“O acordo com a União Europeia ampliará diferentes oportunidades, seja em acesso a mercados, seja pela criação de um arcabouço normativo estável para promover o comércio de bens e serviços e os investimentos bilaterais”, afirma Abijaodi.


 

A entrada em vigor do acordo levará o Brasil e demais membros do Mercosul a alinharem suas políticas de desenvolvimento sustentável com os padrões europeus, com oportunidade de atração de investimentos relacionados à agenda ambiental.

No momento em que existe uma disputa entre Estados Unidos e China, o Brasil, considerado formalmente como parceiro estratégico da União Europeia, torna-se também estratégico para a Alemanha.

“Os processos de assinatura e internalização precisam ser acelerados. Quanto mais rápido o acordo for concluído, maiores os ganhos para as duas economias”, ressalta o diretor.

A Alemanha é o sexto maior destino das exportações brasileiras e o quarto maior em origem de nossas importações, somando um fluxo bilateral da ordem de US$ 15 bilhões. Nessa relação, também se destaca o comércio de bens de alta e média-alta tecnologia.

Eles representam 33,7% do total das exportações do Brasil para a Alemanha e 85% das importações brasileiras do país europeu, somando uma corrente de comércio de US$ 10,7 bilhões somente nessas categorias de bens. 

Acordo entre Mercosul e UE representará um novo patamar na relação entre os blocos

Para Manfredo Rübens, presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK), a concretização do acordo representará um novo patamar na relação entre os dois blocos, que representam, juntos, 25% da economia mundial.


“Mais do que aquecer o comércio exterior, a aproximação com a União Europeia representa um passo essencial para tornar o Brasil mais competitivo no cenário internacional”, considera.


Marc Reichard, CEO da Bayer Brasil e co-presidente do setor privado brasileiro na Comissão Mista Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica, avalia que o acordo do Mercosul com a União europeia ampliará o acesso a mercados tanto no Brasil como na Alemanha. 

“O tratado reforça os compromissos internacionais ambientais e de direitos humanos, trazidos no capítulo de desenvolvimento sustentável, e promove competitividade. Além disso, traz novas oportunidades de negócios pela criação de um ambiente normativo estável entre os blocos para o fluxo de bens, serviços e investimentos”, diz.

Acordo para evitar dupla tributação entre Brasil e Alemanha é demanda histórica

Reichard ressalta que o acordo para evitar dupla tributação entre Brasil e Alemanha também é uma demanda histórica do setor privado. Com a saída do Reino Unido da União Europeia, a Alemanha passa a ser a única economia europeia com a qual o Brasil não firmou esse acordo.

São mudanças que dizem respeito sobretudo ao tratamento tributário dado pelo Brasil aos rendimentos de serviços técnicos e às regras de preços de transferência.


Uma consulta da CNI a empresários alemães que operam no Brasil mostra que, para 68% deles, a celebração de um acordo de dupla tributação estimularia a ampliação de seus investimentos aqui. Para 82%, contribuiria para o aumento do comércio de serviços e, para 55%, para a ampliação da aquisição de royalties.


A ampliação das parcerias entre Alemanha e Brasil para apoiar projetos na área de inovação e tecnologia deve ser outra prioridade, na avaliação de Luiz Cassiano Rosolen, diretor-presidente das Indústrias Romi.

Empresa brasileira fundada em 1930, em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo, a fabricante de máquinas e equipamentos industriais possui duas unidades fabris na Alemanha, de onde também exporta para outros países do continente. 

“Com projetos que envolvam transferência ou o desenvolvimento de novas tecnologias, teríamos um ambiente favorável à ampliação do fluxo de comércio e de investimentos entre os dois países."

A facilitação da integração entre os agentes dos dois países também é uma forma de fazer com que a relação seja mais constante e que disto surjam novas parcerias no setor”, afirma.

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