Indústria se recupera da crise desencadeada pelo covid, mas de forma heterogênea

Estudo da CNI mostra que produção e faturamento retornam aos patamares de fevereiro, mas continuam abaixo da média de 2019. Emprego industrial permanece inferior ao nível pré-crise

Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que indústria brasileira reverteu a queda nos indicadores de produção e faturamento acumulada desde o início da pandemia de Covid-19 e retornou aos patamares de fevereiro. Essa recuperação, no entanto, ocorreu de forma heterogênea. Os dados constam da Nota Econômica n.º 16, divulgada nesta quinta-feira (26)

Em setembro, a produção da indústria de transformação ficou 1,1% acima do registrado em fevereiro, ou seja, antes do choque trazido pela pandemia. Para se ter ideia, em abril, a produção da indústria estava 31,3% abaixo do indicador de fevereiro, mas teve cinco altas consecutivas de maio a setembro.

O faturamento da indústria de transformação também já superou o patamar anterior à crise. De fato, até mais cedo que a produção. O faturamento real em setembro está 6,1% superior ao registrado em fevereiro.

No entanto, apesar do retorno aos patamares pré-pandemia, tanto na produção quanto no faturamento, a média do ano continua abaixo da média de 2019. No acumulado de janeiro a setembro, a produção industrial ficou 8,2% abaixo da média de igual período do ano passado. No caso do faturamento, a média foi 1,7% inferior ao registrado no mesmo período de 2019.


“Nossa expectativa é que a atividade industrial continue crescendo no quarto trimestre. O faturamento real da indústria certamente registrará um desempenho positivo na comparação do acumulado em 2020 com o de 2019. A produção, no entanto, fechará no vermelho”, afirma Renato da Fonseca, gerente-executivo de Economia da CNI.


De acordo com a CNI, a diferença entre as evoluções da produção e do faturamento foi influenciada pela estratégia das empresas em minimizar seus estoques, justificada pela forte queda nas vendas em março e abril e pela elevada incerteza. As empresas enfrentaram dificuldades de caixa e acumular estoques agravaria esse cenário.

Os números mostram que a indústria já vinha registrando queda em seus estoques desde abril. Como a retomada da produção ocorreu mais rápido do que o esperado, os baixos estoques contribuíram para a desestruturação das cadeias de produção.

“Com capacidade de resposta (ou seja, de aumento da produção) diferentes, as empresas industriais passaram a ter dificuldade de acesso a insumos e matérias-primas e de atender a demanda de seus clientes. Não fosse a dificuldade em se obter insumos e matérias-primas, o crescimento da produção industrial seria ainda maior”, afirma a nota da CNI.

Emprego industrial volta a crescer em agosto, mas permanece abaixo do nível pré-crise

Na esteira da recuperação da atividade industrial, o emprego industrial passou a crescer em agosto. Ele havia registrado queda de março a julho. Segundo os Indicadores Industriais da CNI, após acumular queda de 3,6% em cinco meses, o emprego cresceu 1,3% em agosto e 0,5% em setembro. 

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, mostram que a queda do saldo de emprego formal na indústria de transformação (admissões menos demissões) nos meses de março a junho totalizou 348 mil postos de trabalho. Já em julho o saldo voltou a ser positivo, com criação de 52,8 mil vagas. Nos meses seguintes, foram criados 90 mil postos de trabalho (agosto) e 108 mil (setembro).

“Tanto os indicadores da CNI quanto os números do governo mostram que o emprego industrial ainda se encontrava, em setembro, abaixo do nível de fevereiro. No quarto trimestre, o emprego continuará em crescimento, em resposta ao movimento positivo da produção”, afirma a nota.

Setores da economia se recuperam de forma heterogênea

Os efeitos da crise e a recuperação não são uniformes entre os setores de atividade industrial. Os números mostram que alguns setores já apresentam um desempenho positivo tanto na comparação com fevereiro como com o acumulado no ano. 


Os setores de melhor desempenho são os produtores de bens de consumo não duráveis, como alimentos e perfumaria, limpeza e higiene pessoal. Esses setores registraram valor de produção em setembro acima do nível pré-pandemia (fevereiro), e o valor acumulado no ano já está maior que do mesmo período de 2019.


Os setores celulose e papel e farmoquímicos e farmacêuticos não apresentam um volume de produção superior que o de fevereiro, mas, no acumulado do ano, o resultado é superior ao do ano passado. Ou seja, o desempenho no ano já é positivo, porque os setores foram pouco afetados pela crise.

Entre os setores mais afetados, estão os bens de consumo duráveis, como veículos automotores e vestuário, com níveis de produção abaixo do patamar de fevereiro. No acumulado do ano em comparação com 2019, eles apresentam queda de 36% e 31,6%, respectivamente.

A pesquisa traz ainda setores cuja produção voltou ao patamar pré-crise, mas o valor médio entre janeiro e setembro de 2020 se encontra abaixo de igual período de 2019. Entre eles estão os de bens de capital, como máquinas e equipamentos e máquinas e materiais elétricos.

Acesse a íntegra da nota econômica. 

Relacionadas

Leia mais

Confiança cresce em 22 de 30 setores industriais em novembro
CNI entrega ao governo propostas para negociações sobre mercado global de carbono
Cursos da CNI sobre exportação estão com desconto

Comentários