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Economia fraca em 2022 vai afetar Bolsa; veja setores que devem sofrer mais

Veja as ações mais afetadas pelo PIB fraco ano que vem e quais vão resistir - Arte/UOL
Veja as ações mais afetadas pelo PIB fraco ano que vem e quais vão resistir Imagem: Arte/UOL

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

19/10/2021 04h00

A economia brasileira vai desacelerar ano que vem e isso vai afetar os ganhos na Bolsa, afirmam profissionais de mercado. Alguns setores serão mais afetados que outros, e o aplicador terá que ser mais cuidadoso na hora de escolher uma empresa para a carteira, destacam especialistas.

Segundo projeções feitas por mais de 100 instituições financeiras e consultorias para o Boletim Focus, do Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer 1,54% em 2022. Isso é menos que os 5,04% que os mesmos especialistas projetam para a economia brasileira em 2021. Veja abaixo os setores que serão mais afetados, os negócios que podem escapar desse ambiente adverso e as estratégias de aplicações, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

Como PIB fraco atrapalha a Bolsa

Quando o PIB diminui ou cresce pouco isso quer dizer que o conjunto da economia teve desempenho fraco em termos de produção, vendas e consumo por parte das empresas e consumidores que atuam nesse mercado.

O CEO da Planner Corretora, Alan Gandelman, destaca que o crescimento de 5% do PIB este ano é forte porque em 2019 a economia brasileira havia caído 4,1%. Então, a base de comparação era muito baixa.

Além disso, aponta ele, a inflação está maior que o avanço da economia. Então, o crescimento real do PIB no Brasil tem sido até negativo. O que afeta as empresas.

A gente compra uma ação porque acredita que os resultados da empresa vão melhorar, e isso vai se traduzir em valorização da ação e em melhores dividendos, por exemplo. Mas se os resultados não vão ser melhores, com uma economia mais fraca, o interesse pela ação diminui.
Alan Gandelman, CEO da Planner Corretora

E ainda tem os juros mais altos

Além do crescimento econômico mais modesto em 2022, a Bolsa enfrenta outro adversário que é a alta dos juros. Desde março, a taxa básica de juros, a Selic, vem sendo elevada pelo Banco Central, em uma tentativa do governo de controlar a inflação, que deve fechar 2022 no maior patamar desde 2015.

A taxa básica de juros saiu de 2% para 6,25% ao ano e, segundo projeções de mercado apuradas no Boletim Focus, vai até 8,75% ano que vem.

Quando os juros sobem, as empresas precisam pagar mais caro para tomar crédito e investir, da mesma forma que ficam mais caros os empréstimos para as famílias. O resultado dessa combinação é um freio na economia.

Além disso, quanto mais elevados os juros, melhores os ganhos das aplicações da renda fixa, que começam a ficar mais interessantes que a Bolsa, destaca o CEO da casa de análises Ohmresearch, Roberto Attuch.

Parte do impacto já aconteceu

Larissa Quaresma, analista de pesquisa da casa de análises Empiricus, diz que o menor crescimento econômico do Brasil em 2022 e a alta dos juros já atingiram a Bolsa porque os aplicadores atuam considerando as expectativas. Assim, o impacto do PIB em 2022 mais fraco já está atrapalhando a Bolsa agora, diz ela.

Veja abaixo como estão se comportando alguns índices de ações que acompanham empresas de diferentes setores de atividade no acumulado este ano.

  • Ibovespa: 4,67%
  • Materiais básicos (commodities): +6,96%
  • Utilidades públicas: -0,92%
  • Energia elétrica: -4,39%
  • Iconsumo: -11,22%
  • Ifinanceiro: -14,75%
  • Imobiliário: -24,99%
  • BDRs: +22,21%
  • Ifix (fundos imobiliários): -4,96%

3 setores que devem sofrer mais em 2022

  • Varejo de bens de consumo duráveis: ações de empresas que dependem do crescimento econômico e que vendem produtos não essenciais, como eletrodomésticos, devem sofrer mais em 2022 com o PIB fraco, aponta a especialista em ações da Clear Corretora, Pietra Guerra. Segundo ela, são compras que o consumidor pode adiar numa crise em momentos de incerteza sobre o emprego.
  • Construtoras: com a economia desacelerando, o que limita a melhora da renda da população e, por tabela, o consumo, o setor imobiliário também está sendo impactado pelos juros mais elevados, que encarecem o financiamento, afetando a comercialização de novos projetos.
  • Serviços: ações de empresas ligadas aos setores de viagens, como as locadoras de veículos, companhias aéreas, e à educação também dependem do aumento da renda e do emprego dentro do país para elevarem vendas e, assim, os lucros. Esses segmentos devem ter um espaço mais limitado para valorização em um ano de PIB fraco, aponta o diretor de mesa de renda variável da Lifetime Investimentos, Vitor Carettoni.

Temos empresas saudáveis, com caixa e boas perspectivas de vendas, mas que acabam afetadas pelo ambiente macroeconômico mais difícil.
Pietra Guerra, da Clear Corretora

4 setores que devem ir bem mesmo com PIB fraco

Veja alguns negócios que podem servir de porto seguro para o investidor de ações em 2022.

Exportadoras de produtos básicos: nesse grupo estão as mineradoras, que produzem e vendem para minério para outros países; as siderúrgicas, que comercializam aço, as exportadoras de papel e celulose, além dos frigoríficos. São companhias que dependem do crescimento mundial mais que do desempenho do PIB brasileiro, destaca Roberto Attuch.

A aposta no desempenho das exportadoras brasileiras de metais, aço, papel e celulose e proteína animal é unânime entre todos os profissionais ouvidos pelo UOL.

Bancos: o aumento de juros pode ajudar os bancos a lucrarem mais com o dinheiro que aplicam no mercado financeiro. Além disso, o setor tem apresentado lucros mesmo nos anos de crise e está com preços das ações defasados, apontam analistas.

Juros são receita para bancos. Os bancos se beneficiam dos juros.
Larissa Quaresma, da Empiricus

Varejo de bens essenciais: ações de redes que comercializam alimentos, como os supermercados, e remédios, caso das farmácias, devem ter desempenho positivo ano que vem, mesmo com o PIB fraco, apontam analistas de mercado.

A alimentação e a saúde são itens com menor espaço para cortes de gastos no orçamento das famílias mesmo em momentos de menor crescimento econômico, afirma a especialista em ações da Clear Corretora, Pietra Guerra.

BDRs: a economia global vai crescer mais que o PIB brasileiro, apontam economistas. Projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê avanço de 5,9% para economia no mundo, 6% para os Estados Unidos e 8% para a China.

A Bolsa brasileira vai continuar em 2022 com desempenho inferior a outras bolsas globais.
Roberto Attuch, da Ohmresearch

Como mudar a aplicação

O investidor não deve tentar ajustar a carteira de uma hora para outra, vendendo ações que podem ser afetadas pelo PIB fraco em 2022 para apostar nos setores que devem ir bem.

Antes, cada pessoa tem que fazer uma avaliação detalhada da própria carteira e considerar os objetivos daquele dinheiro aplicado, destaca Pietra Guerra, da Clear Corretora.

Segundo ela, a decisão de mudar a carteira depende, por exemplo, do momento em que a pessoa entrou na ação e por quanto tempo ela tinha planejado manter o investimento.

A carteira tem que estar condizente com o objetivo e o perfil de risco de cada investidor. Não é hora de sair vendendo tudo, mas também não é momento de sair comprando qualquer coisa.
Pietra Guerra, da Clear Corretora

Para quem está entrando agora na Bolsa, a recomendação reforçada por todos os analistas é a de focar no longo prazo e não tentar faturar com negócios rápidos, para ganhar com apostas em menos de um ano.

A Bolsa terá em 2022 mais um ano de volatilidade. Vai ser mais difícil para quem quiser acertar apostas de curto prazo. Não vai ser aquela festa para o pequeno investidor, que ganhou fácil em 2018 e 2020.
Alan Gandelman, da Planner Corretora

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