Anchieta é primeira planta da Volkswagen a aprovar acordo com empregados
Assembleia realizada na Volkswagen em São Bernardo: proposta de abertura de PDV e estabilidade até 2025 foi aprovada por unanimidade
Os trabalhadores da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) foram os primeiros a aprovar o novo acordo trabalhista negociado com os sindicatos e proposto pela empresa aos empregados de suas quatro fábricas no Brasil. Em assembleia realizada no início da tarde da terça-feira, 15, a proposta que prevê abertura de um programa de demissões voluntárias (PDV) e estabilidade no emprego até 2025 foi aprovada por unanimidade pelas centenas de funcionários reunidos na porta da fábrica na Via Anchieta.
Após o impacto da pandemia de coronavírus que desenhou um cenário de queda das vendas e recessão econômica, com perspectiva de retomada da produção de veículos aos níveis de 2019 apenas em três a cinco anos, há duas semanas a Volkswagen confirmou que negociava com os sindicatos um plano para adequar sua capacidade produtiva à nova realidade e reduzir em cerca de 35% o quadro de funcionários de suas fábricas, o que equivale ao desligamento de 4,7 mil pessoas. Durante as negociações que duraram cerca de quatro semanas, foi traçado um acordo bem menos traumático do que era esperado.
O acordo com validade de cinco anos garante estabilidade no emprego por todo o período de vigência e abre o PDV – sem metas divulgadas e com prazo de inscrição ainda a ser definido –, que pagará para quem quiser sair de 25 a 35 salários adicionais, dependendo do tempo de casa, mas após a primeira rodada de adesões será aberta uma segunda fase com incentivo reduzido para 15 a 25 salários. Em caso de necessidade, a empresa fica autorizada a usar o afastamento temporário (layoff) do trabalho por até 10 meses, pagando 82,5% do salário líquido. Também foram estabelecidos índices e formatos de reajustes salariais e da PLR (participação nos lucros e resultados) até 2025.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e trabalhador na Volkswagen Anchieta, Wagner Santana, defendeu a importância da aprovação da proposta negociada com a empresa diante do cenário econômico instável. Ele também destacou que o acordo deverá ter efeitos positivos na cadeia automotiva, ao garantir a manutenção do nível de produção e até apontar para a possibilidade de crescimento.
“Vivemos um momento de incerteza em relação ao futuro econômico do País. Nesse cenário, um acordo que garante estabilidade por cinco anos é muito positivo, inclusive tornando-se referência para o movimento sindical em relação às possibilidades de conquista da classe trabalhadora”, afirmou Wagner Santana. |
OUTRAS FÁBRICAS DEVEM APROVAR PROPOSTA DA VOLKSWAGEN |
Proposta idêntica (com ajustes regionais) foi negociada com as representações sindicais das outras três fábricas da Volkswagen no País – e portanto conta com o apoio dos sindicatos locais para que o acordo seja aprovado pelos trabalhadores dessas unidades ao longo desta semana. Em assembleia realizada também na terça-feira em São José dos Pinhais (PR) ficou decidida a abertura de votação até a quarta-feira, 16, pelo sistema on-line do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC). O mecanismo será usado para incluir os funcionários da planta que estão afastados, em layoff. Mas SMC deixa claro que apoia a aprovação do acordo.
Assembleia na fábrica da Volkswagen no Paraná decidiu abrir votação eletrônica para apreciar proposta de acordo
“Desde que a Volkswagen nos procurou deixamos claro que nosso objetivo era evitar as demissões e que então buscássemos alternativas para procurar manter os empregos e a competitividade da empresa. Graças ao bom senso de ambas as partes, conseguiu-se tirar uma proposta de preservação e garantia dos postos de trabalho pelos próximos cinco anos. Com isso, há tranquilidade para que o trabalhador possa desempenhar bem sua função e a empresa possa se planejar para enfrentar o momento difícil pelo qual o País passa”, afirmou em nota Sérgio Butka, presidente do SMC.
O acordo também será votado nesta quarta-feira, 15, pelos empregados da fábrica de Taubaté (SP), onde além de todos pontos negociados nas outras unidades o sindicato (Sindmetau) afirma que conseguiu o descongelamento de um novo plano de investimento para a unidade, com a produção de mais modelos, incluindo o Polo (hoje só produzido na Anchieta) e uma nova versão chamada de Polo Track.
Para a fábrica de motores de São Carlos (SP), o sindicato local ainda não publicou o eedital de convocação de assembleia para apreciar a proposta da Volkswagen, mas isso deverá ocorrer em breve.
REAJUSTES PARCIALMENTE REDUZIDOS |
Além da estabilidade, PDV e uso prolongado de layoff, o acordo também estabelece índices de reajustes salariais pelos próximos cinco anos, com algumas variações dependendo da fábrica. Em 2020 não haverá correção pelo INPC até o limite de 5%, só a inflação acima desse porcentual será aplicada, e a empresa vai pagar um abono (de R$ 6 mil no caso de São Bernardo).
Nas datas-base de 2021 e 2022 também será aplicado o INPC integral para correção dos salários, só acima de certos limites. De 2023 a 2025 os vencimentos voltam a ser corrigidos integralmente pelo INPC anual.
O programa de participação nos lucros e resultados (PLR) deste ano foi estabelecido em R$ 12,8 mil e será corrigido pelo INPC do ano anterior de 2021 a 2025. Caso o número de veículos produzidos nas quatro plantas no ano exceda o limite de 580 mil, as partes se comprometeram a reavaliar as condições da PLR.