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Precisa-se de roteiro ambicioso para a economia circular

Tem de se optar por um modelo económico restaurador e regenerativo. Estima-se que a economia circular terá benefícios positivos em termos de crescimento do PIB e de criação de emprego.

Filipe S. Fernandes 23 de Outubro de 2020 às 16:00
João Castello Branco: as empresas têm de estar no centro da mudança.
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"Se não forem tomadas medidas urgentes, o mundo, em 2050, estará a consumir recursos como se houvesse três planetas Terra em vez do único que temos à nossa disposição, e assim se comprometerá o bem-estar das gerações futuras", afirmou João Castello Branco, presidente do BCSD e da The Navigator Company.

Por isso, na sua opinião, "as empresas têm de estar no centro desta mudança, porque, em última instância, são as empresas que trabalham os recursos, os processam e entregam à sociedade o produto de que esta precisa para sobreviver".

Há ainda um longo caminho a percorrer ao nível da sustentabilidade e da economia circular. Segundo a União Europeia, apenas 12% dos recursos são reintroduzidos na economia, que é quase exclusivamente linear. O uso pouco eficiente dos recursos extraídos conduz a prejuízos económicos e ambientais que se estimam que representem 63% dos custos ambientais e 13% do PIB mundial.

"Muitos produtos são concebidos para que sejam utilizados uma única vez ou terem pouca durabilidade. Por isso importa refazer processos de produção minimizando os recursos naturais, reutilizar os produtos aumentando significativamente o seu período de vida. Reciclar os produtos e reintroduzindo-os na cadeia de valor e reduzir, de forma substancial, o consumo de recursos naturais sobretudo os não renováveis."

Outro problema é a devolução de produtos à natureza que esta não consegue reciclar, que não são biodegradáveis. É neste contexto que tem de se reduzir significativamente o uso de plásticos de utilização única. "Se não forem tomadas medidas, estima-se que o consumo de plástico possa duplicar nos próximos 20 anos e passará a haver mais plásticos nos oceanos do que peixe", diz João Castello Branco.

A simbiose industrial

De acordo com as metas definidas pela Smart Waste, há que garantir a curto prazo que 100% das embalagens de plástico são reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis; 70% ou mais das embalagens sejam recicladas; 30% de plástico reciclado seja incorporado nas novas embalagens.

Para João Castello Branco é fundamental "definir um roteiro ambicioso para a economia circular. Optar por um modelo económico restaurador e regenerativo em contraste com um modelo linear de consumo, assente na erosão do capital natural".

Estima-se que a economia circular tenha benefícios positivos em termos de crescimento do PIB e de criação de emprego. Segundo a União Europeia, haveria um aumento adicional de 0,5% do PIB, uma vez que os resíduos passariam a ser valorizados evitando consumos intermédios, e seriam criados 700 mil postos de trabalho até 2030.

Em Portugal, o BCSD, que há 20 anos trabalha em Portugal para ajudar os seus associados em temas ambientais e de responsabilidade social, tem como uma das suas principais linhas de trabalho a promoção da economia circular.

Fez um estudo sobre as sinergias circulares com o objetivo de lançar bases para a simbiose industrial, através da troca de materiais, água e energia entre empresas. Neste estudo concluiu-se que 57% dos resíduos declarados são eliminados e só 43% valorizados; 59% dos resíduos com maior potencial de se tornarem matéria-prima alternativa (ex: cinzas, lamas, resíduos biodegradáveis) são eliminados. Na dimensão social e económica, a tradução dos consumos intermédios evitados é de 165 milhões de euros, cuja disponibilização para aumento da procura final poderá gerar 32 milhões de euros em VAB e cerca de 1.300 novos empregos.

Há muitas oportunidades para as empresas desenvolverem sinergias entre si que permitiram aproveitar parte significativa dos resíduos não eliminados com especial incidência nos que têm maior potencial de aproveitamento (59%) evitando a sua eliminação.
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