As dificuldades do Brasil na corrida pelos componentes eletrônicos

Hella do Brasil: trabalhando na nacionalização de componentes para turbocompressores

Por PAULO RICARDO BRAGA, AB
  • 01/04/2021 - 17:05
  • | Atualizado há 2 anos, 9 meses
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    Não é segredo que o Brasil ficou para trás na produção de componentes eletrônicos e hoje deve se dar por satisfeito por dominar o processo de montagem de placas e módulos eletrônicos para a indústria automobilística e setores afins. A análise é do CEO da Hella do Brasil Automotive, Carlos Bertozzi. “É mais que sabido que a maioria dos insumos vem da Ásia e agora o México começa a se destacar na produção de componentes eletromecânicos também”, explica Bertozzi.

    Ele esclarece que há uma grande escassez de estoques e prazos absurdos para atendimento de pedidos de materiais eletrônicos – com os preços subindo na mesma velocidade. A montagem local de placas e módulos exige entre 40 componentes, se for simples, e até quatro centenas de peças. O preço dos artigos a serem conectados varia de US$ 0,01 a até US$ 2 ou US$ 3, mas a falta de qualquer um deles pode ser irremediável para o cumprimento de prazos de entrega. A montagem das placas é considerada uma operação até certo ponto sofisticada, que exige processo qualificado nas soldas.

    Bertozzi conhece bem o que está falando, pois a Hella inaugurou uma fábrica em 2016, depois de um ano de atuação no aftermarket. Essa unidade, em Indaiatuba (SP), atende clientes como Volkswagen, Stellantis e, mais recentemente, MTA, Marelli e Eldor. A empresa iniciou a nacionalização de bombas de vácuo elétricas e atuadores de turbocompressores, que utilizam dispositivos eletromecânicos.

    O CEO da Hella explica que a ruptura do equilíbrio das cadeias de suprimentos de componentes eletrônicos avançou com a escalada da pandemia, que deixou as pessoas em casa e dispostas a consumir laptops e celulares, para uso no trabalho e lazer. Quando a indústria automobilística desacelerou, e até parou em muitas situações, os fornecedores de componentes eletrônicos desviaram sua atenção para o mercado doméstico e fecharam as portas para a indústria automobilística na retomada da produção.

    “Foi uma tempestade perfeita sobre as operações de manufatura automotiva. Faltou transporte aéreo e marítimo, os preços dispararam e os prazos de entrega foram às nuvens”, revela o executivo. A logística de suprimentos tornou-se alucinante, com a contratação de voos às vezes dedicados, por milhares de dólares, empenhados para cumprimento de prazos. As vendas de componentes “intercompany” tornaram-se mais comuns para diminuir o estresse nos compromissos com clientes como montadoras e tiers 1 e 2.

    A Hella é uma corporação global, com mais de uma centena de anos e tornou-se referência na produção de faróis e dezenas de outros dispositivos eletrônicos. “Apesar das dificuldades do mercado vivemos um momento positivo. Esperamos uma recuperação das atividades no segundo semestre e uma melhora no próximo ano, embora os gargalos continuem preocupando. Há, no momento, prazos de entrega para o fim do ano que vem e precisamos fazer pedidos firmes para não perder o lugar na fila”, conclui Carlos Bertozzi.

    EVOLUÇÃO



    De acordo com a consultoria Deloitte, o custo porcentual dos componentes eletrônicos em carros passou de 18% em 2000 para 40% em 2020 e deve representar 45% em 2030. Já Marcus Ayres, diretor e sócio da Roland Berger, estima que as tendências MADE (sigla em inglês para Mobilidade, Veículos Autônomos, Digitalização e Eletrificação) deverão mais que dobrar o valor médio da eletroeletrônica embarcada nos veículos até 2025.