Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos

País agora tem plano de cibersegurança

Plano tem ponto negativo tragicômico, ao recomendar certificado digital monopolizado

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Na semana passada, o governo federal editou medida que estava atrasada havia 15 anos: criou um decreto que define a estratégia nacional de segurança cibernética. 

Esse tema andava à deriva havia décadas. O país ocupa o 70º lugar no Índice Global de Cibersegurança da ONU, perdendo para países como México, Quênia e Paraguai. 

São muitos os casos vexatórios: vazamento de dados de autoridades, lista de todas as senhas de sites do governo publicadas na internet, espionagem industrial de empresas estatais etc. 

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Segurança digital precisa de mobilização de toda a sociedade para ter eficácia - Dado Ruvic - 26.nov.19/Reuters

Como sempre, a ocasião faz o ladrão. Praticamente todo o primeiro escalão do governo usa celulares e aplicativos convencionais. Com isso, estão sujeitos ao monitoramento constante dos seus dados, além de vulneráveis ataques comuns. 

O certo seria que ocupantes de cargos públicos que lidam com informações sensíveis passassem a usar aparelhos especiais criptografados e imunes à captação de dados por terceiros. 

O plano da semana passada não vai resolver isso. No entanto, ao menos traça princípios que podem orientar o país. Nele há pontos positivos e pontos negativos. 

Um destaque positivo é o fato de o plano tratar a segurança cibernética como questão pertinente a todos os setores da sociedade. Faz sentido. Para lidar com esse desafio, é fundamental juntar o setor público, o setor privado, a comunidade científica, o terceiro setor e assim por diante.

A razão é simples. Segurança digital é tema tão complexo que precisa da mobilização de toda a sociedade para ter eficácia. Há muito pouco que o governo sozinho (ou só os militares) pode fazer sem a cooperação de outros setores. O plano vai nesse sentido e acerta.

O documento valoriza também o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados, dois pilares legais da internet no país. Valoriza também o CERT.br, entidade que monitora e responde a incidentes de segurança no país, gerido pelo Comitê Gestor da Internet.

Já com relação aos pontos negativos, há falhas graves. A primeira é um ponto cego imperdoável. Uma das maiores ameaças globais à segurança na rede é a compra de programas-espiões por governos, capazes de devassar a vida digital de qualquer pessoa, incluindo autoridades. Um desses programas escancarou há pouco a vida do bilionário fundador da Amazon, Jeff Bezos. 

 

O Brasil deveria deixar bem claro se adquire programas-espiões como esse e quem os adquire (há rumores de que sim). E qual a estratégia que o país possui para defender seus cidadãos contra esse tipo de ataque. O plano brasileiro não traz uma palavra sobre isso.

Há outro ponto negativo tragicômico. O texto inclui nas medidas recomendadas para aumentar segurança digital no Brasil “ampliar o uso do certificado digital”. Não qualquer certificado, mas sim o vergonhoso certificado digital que é monopolizado pelo próprio governo federal (por meio do órgão chamado ITI) que custa até R$ 250 por ano para ser emitido. 

Aqui a recomendação não tem nada a ver com cibersegurança, mas sim tudo a ver com o lobby de quem vende esse sistema vergonhoso, que jamais terá escala para ser solução para a segurança digital no país. Alguém me conte, por favor, como esse jabuti foi parar no texto de um documento tão importante, minando sua credibilidade. 

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Já era Mundo só com apps

Já é Superapps (apps dentro de apps)

Já vem Dapps (descentralized apps)

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