Para a Ford, vendas e produção só retornarão ao nível pré-pandemia em 2023

Lyle Watters, presidente da Ford para a América do Sul

Por SUELI REIS, AB
  • 01/12/2020 - 21:04
  • | Atualizado há 2 anos, 9 meses
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    As estimativas da Ford confirmam que o mercado brasileiro de veículos, assim como todo o mundo, foi fortemente afetado pela pandemia de Covid-19, e por isso indica que o País só deverá atingir os volumes de produção e vendas pré-pandemia (de 2019) daqui a três anos, em 2023. O presidente da companhia para a América do Sul, Lyle Watters, aposta em crescimento para a região a partir de 2021, mas de forma ainda lenta com muitos desafios para enfrentar. O executivo deu seu parecer sobre o cenário atual durante uma coletiva virtual de imprensa realizada na terça-feira, 1º.

    “Esperamos uma indústria em torno de 2 milhões de unidades em 2020 no Brasil e de 320 mil a 340 mil veículos na Argentina. Para 2021, nossa projeção é de 2,5 milhões no Brasil e pouco mais de 400 mil na Argentina”, disse o presidente da Ford.



    O volume previsto pelo executivo No Brasil para o ano que vem representa aumento de 25% sobre os 2 milhões projetados por ele em 2020. Já na Argentina, a variação positiva das vendas está entre 17% e 25%, previsão alinhada com a Adefa, associação das fabricantes locais.

    “Este ano de 2020 é atípico, há um ano ninguém esperava por isso, nem mesmo o setor automotivo brasileiro, que é tão acostumado com altos e baixos”, comentou.

    Watters confirma que logo no início da pandemia a Ford também foi forçada a focar na situação financeira, saúde do caixa e sua liquidez, assuntos que assim como a saúde dos funcionários estavam no topo da lista dos comitês de crise de toda a indústria. Segundo ele, a situação foi agravada com a questão de disponibilidade e alto custo do crédito, uma vez que o spread dos bancos continua em níveis muito altos no Brasil.

    “Temos a expectativa de que a atividade econômica na América do Sul se recupere gradualmente em 2021, mas os níveis de 2019 de produção e vendas só devem ser retomados em 2023. Continuaremos a enfrentar um ambiente difícil nos próximos anos no setor automotivo.”

    O executivo ponderou sobre outras dificuldades ao longo de 2020 e reforçou que neste ano a desvalorização das moedas locais aumentou a pressão dos custos indicando que o real teve 40% de desvalorização, enquanto o peso argentino registrou queda de 30% ante o dólar. Segundo ele, a utilização da capacidade produtiva atual da indústria automotiva está em 40%.

    PARTICIPAÇÃO DE MERCADO EM QUEDA


    Sobre as perdas de participação no mercado brasileiro, o presidente da Ford diz não estar preocupado com a descida da marca no ranking de vendas – a empresa caiu da quarta para a sexta posição em dois anos. O executivo relembra que a fatia atual da Ford nas vendas do Brasil é resultado da decisão da empresa em ser mais seletiva com relação a grandes vendas diretas para frotas, o que para ele foi uma decisão totalmente consciente.

    “O market share não é o único parâmetro empresarial no qual eu e minha equipe nos focamos. Nossa saúde financeira, principalmente em um ambiente tão crítico como o que estamos vivendo, faz com que exista muita pressão e eu repito: a moeda enfraquecida, os efeitos da pandemia, a baixa utilização da capacidade, o alto custo do crédito, tudo isso significa que precisamos estar saudáveis como empresa e se isso significa abrir mão de um tanto de market share, que não é lucrativo, para corrigir e adequar o tamanho da nossa estrutura, para mim isso significa bons negócios financeiramente sustentáveis”, defendeu Lyle Watters.

    Ele ponderou ainda que no longo prazo volume é importante, mas é apenas um dos fatores: “É um dos ingredientes na tomada de decisão”.