Nesta quinta-feira (11) completa um ano desde que a OMS declarou a pandemia. O Brasil chega à data com uma nova leva de restrições de circulação para conter o recorde de mortes, e uma grande parte do empresariado está dividida, sem convicção de que as medidas de fechamento do comércio são eficientes para conter o contágio. O maior consenso é a preocupação de que a atual velocidade da vacinação será insuficiente para impedir mais estrago na economia e nos empregos.
O critério de seleção dos estabelecimentos que podem ficar abertos vem sofrendo questionamento. José César da Costa, da CNDL (confederação de lojistas), afirma que o lockdown penaliza os micro e pequenos comerciantes que estão fechados enquanto grandes farmácias e supermercados, que vendem de tudo, podem funcionar.
Para o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, o modelo de fechamento escolhido não resolve o contágio e prejudica parte da economia. “Assim como um supermercado pode operar com restrições de clientes por metragem e com todos os cuidados, o comércio varejista também poderia estar aberto tendo esses mesmos cuidados.”
Os mais afetados dizem que faltou fiscalização. “Antes da vacina, não atacaram festa clandestina, aglomeração no transporte público e no comércio popular, desativaram hospitais de campanha, permitiram a livre circulação na eleição. Agora a conta é paga por quem respeitou as orientações sanitárias”, diz Tito Bessa Junior, da Ablos, que reúne lojistas de shoppings.
Também sobram críticas para o ritmo lento da vacina. “Outro descuido inaceitável foi a organização da vacinação, tema com histórico de excelência no Brasil. Não compramos as vacinas em quantidade suficiente, tampouco conseguimos planejar a imunização ampla, com boa organização e comunicação”, afirma José Ricardo Roriz, presidente da Abiplast (da indústria de plásticos).
Fernando Pimentel, presidente da Abit (indústria têxtil), lamenta a falta de coordenação entre municípios, estados e União. Para ele, ao longo da pandemia, foram adotadas restrições em excesso, em locais em que a contaminação estava baixa.
Humberto Barbato, da Abinee (da indústria elétrica e eletrônica), diz que os associados estão insatisfeitos com o retrocesso no fechamento do comércio, mas não veem alternativa diante do colapso no sistema de saúde.
Para Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, é preciso tomar medidas restritivas de circulação, mas com cuidado em relação às atividades que têm de ser mantidas. “A gente tem, de um lado, a preocupação com a prioridade absoluta que é a vida, mas por outro lado, a gente tem uma preocupação monumental com a economia. O isolamento, quando feito de uma maneira em que não se consideram as particularidades da economia, pode levar a problemas gravíssimos”, diz.
Para João Diniz, presidente da Cebrasse (central do setor de serviços), Bolsonaro fez mal em criticar o uso de máscaras, promover aglomerações e politizar as vacinas. Diniz afirma que as medidas de isolamento são o mal menor, quando comparadas às mortes.
Eduardo Sanovicz, presidente da Abear, associação de companhias aéreas, diz que o setor defende que sejam respeitadas as orientações dos médicos e as medidas de prevenção e segurança sanitária. "As medidas, combinadas com os protocolos que adotamos no setor, garantem o voo seguro até a chegada das vacinas", afirma.
com Filipe Oliveira e Andressa Motter
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