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4º Seminário Inovação no Brasil

Brasil tem pior nota em inovação em dez anos e perde destaque entre emergentes

País sobe 4 postos em 2020 e fica em 62º lugar no Índice Global de Inovação, mas não é o que parece

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Rio de Janeiro

O principal pilar do desenvolvimento econômico está minguando lentamente no Brasil. De acordo com a classificação mundial de inovação mais importante da atualidade, que avalia aspectos como disponibilidade de crédito, mão de obra qualificada e ambiente político, o país está perdendo sua capacidade inovativa ano a ano, sobretudo para economias emergentes.

O que mostra essa tendência é o Índice Global de Inovação (IGI), uma publicação levada bastante a sério pelo mercado, que é produzida todos os anos pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi), em parceria com a Universidade de Cornell (Estados Unidos) e com o Instituto Europeu de Administração de Empresas (Insead). São, basicamente, algumas das principais instituições dedicadas à inovação do mundo.

Por meio de 80 indicadores, o IGI avalia os esforços (como capital humano, por exemplo) e os resultados (como patentes) do processo de inovação. A partir disso, cada país avaliado (foram 131 países no ano passado) recebe uma nota de zero a cem, que se traduz em uma posição no ranking mundial.

O Brasil somava 37,75 pontos na sua capacidade de inovação em 2011, quando o índice passou a ser publicado anualmente. Isso o colocou em 47º lugar no ranking mundial. Em 2020, atingiu apenas 31,94 pontos e desceu para o 62º lugar no mundo. Foi a pior nota obtida pelo Brasil em uma década.

Arredondando a pontuação do IGI em uma escala de zero a dez, é como se o Brasil tivesse tirado nota 4 na sua capacidade de inovar há dez anos, o que já não era muito bom, e, agora, tirasse nota 3.

Com isso, ficamos ainda mais longe da Suíça, líder mundial em inovação, que tirou nota 7: é mais do que o dobro da nota obtida pelo Brasil em 2020. Na prática, a capacidade brasileira de inovar está ficando cada vez mais distante de quem lidera e mais perto de quem está na rabeira.

O Brasil também está se distanciando dos seus semelhantes de mercados emergentes, com os quais é possível fazer comparações mais realistas. Veja o paralelo com os BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Há uma década, o Brasil estava à frente da Rússia (que tinha 35,85 pontos), da África do Sul (35,22) e da Índia (34,52) em termos de capacidade inovativa. Bem à frente mesmo: a nota brasileira deixava o país 15 posições adiante dos indianos e a quase 10 posições dos russos na classificação mundial.

A partir de 2016, fomos ultrapassados pelos três países. E, em 2020, com a menor nota na década, foi o Brasil que ficou 15 posições atrás dos russos no IGI.

A China também deixou o Brasil vendo fumacinha. Líder do grupo dos países emergentes desde o início da publicação do Índice Global de Inovação, o país foi de 46,43 pontos em 2011 (29º lugar no mundo) para 53,28 em 2020 (14º lugar mundial). Trocando em miúdos, apenas 18 países nos distanciavam da China em termos de capacidade inovativa há dez anos; agora são 48 países.

A China, aliás, também lidera em capacidade inovativa em outro grupo: no dos 36 países de renda média alta, que inclui o Brasil (em 16º lugar; o último colocado é a Guatemala). E tem despontado na análise de “qualidade da inovação” do IGI.

Aqui, entra na conta a excelência das instituições de ensino superior de cada país, um aspecto que, em geral, é pouco lembrado nos debates sobre capacidade inovativa.

São as universidades, afinal, que formam a mão de obra altamente qualificada e que responde pela produção científica e tecnológica de uma economia.

O IGI calcula a nota média das três melhores universidades de cada país obtidas no ranking universitário global QS. Essas notas consideram o impacto da produção científica, a quantidade de estudantes por docentes e a proporção de estrangeiros na universidade, o que indica atratividade internacional (para não falar no impacto positivo que a diversidade representa aos desafios da inovação).

No ano passado, a China tinha três universidades com notas altíssimas entre as 50 melhores do mundo no QS: Tsinghua, Pequim e Fudan. Já no Brasil, as melhores universidades do país estavam no grupo de 100º-400º melhores do mundo, na mesma listagem. Estamos falando de USP (Universidade São Paulo) Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Se as universidades perdem investimento, penam com a falta de recursos para ciência e deixam de contratar, como tem acontecido no Brasil, então também irão derrapar nas avaliações internacionais de ensino superior, o que impactará o índice de inovação.

Na China, em sentido contrário, o investimento universitário virou política central de estado e as instituições acadêmicas daquele país ganharam dezenas de casas nos rankings universitários globais nos últimos dez anos.

Especificamente na região da América Latina e Caribe, a análise do IGI mostra que o Brasil tem perdido recentemente em capacidade inovativa para o Chile, a Costa Rica e o México.

O desempenho do México, aliás, é expressivo. O país subiu de 30,45 pontos em 2011 (81ª posição no mundo) para 33,60 pontos no ano passado (55ª posição).

O México tem se destacado especialmente em serviços criativos, inclusive com exportação (não só das famosas novelas, mas também de filmes nacionais). Além disso, marcas fortes como Corona (cerveja) e Claro (telecomunicações) impulsionaram a economia mexicana.

A maioria dos países desse bloco, no entanto, vem derrapando. É como se toda essa região latino-americana e caribenha enfrentasse um mesmo processo de perda de capacidade inovativa, em alguns casos, mais aceleradamente que o Brasil.

O Uruguai, por exemplo, teve queda de quase quatro pontos na sua nota do IGI de 2019 para 2020. No ranking, ficava quatro posições à frente do Brasil; agora está sete casas atrás.

Como piorou um pouco menos que países como Uruguai (foi de 33,82 pontos em 2019 para 31,94 pontos em 2020), o Brasil acabou subindo quatro posições no último ranking do IGI.

Isso causou uma falsa impressão de melhora no desempenho brasileiro. Mas o movimento no ranking não é o que parece.

No mínimo, o Brasil precisaria recuperar o índice de inovação atingido dez anos atrás que, hoje, o colocaria entre as 40 economias com melhor capacidade inovativa do mundo, liderando os blocos América Latina e Caribe e BRICs (excetuando a China). Aí, sim, daria para começar a celebrar.

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