Franklin de Freitas – Polícia nas ruas: serviços essenciais ficam mais expostos ao coronavírus

Mesmo nos momentos mais críticos da pandemia do novo coronavírus, quando quase todas as atividades foram paralisadas, alguns serviços, considerados essenciais, continuaram a todo vapor, como a Saúde, a Segurança Pública e o Transporte Público. E quase um ano depois do início da crise sanitária, um levantamento feito pelo Bem Paraná mostra que pelo menos 300 trabalhadores que atuam nessas áreas já morreram por Covid-19 no estado, com especial destaque quanto aos óbitos entre enfermeiros, médicos e motoristas e cobradores de ônibus.

Entre as categorias analisadas, os profissionais da saúde lideram em número de mortes, com 280 falecimentos causados pela doença pandêmica até ontem, segundo o boletim diário divulgado pela Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa-PR). Entre agentes da segurança e salvamento, a Secretaria da Segurança Pública (Sesp) aponta ter anotado 23 óbitos até a última sexta-feira (26 de março).

Já no Transporte Público foram outros 21 óbitos, mas isso apenas na capital paranaense, conforme o sindicato patronal (Setransp), e 34 falecimentos considerando toda a Região Metropolitana de Curitiba, segundo o sindicato dos trabalhadores (Sindimoc).

Dessa forma, temos que pelo menos 337 trabalhadores essenciais faleceram no estado ao longo do último ano, segundo os dados oficiais, com um aumento nos registros entre os profissionais da segurança pública e do transporte público principalmente no último mês, quando a terceira onda da doença pandêmica resultou numa explosão de casos e óbitos pelo estado.

Considerando-se ainda cada uma das profissões, temos que, em números absolutos, os enfermeiros são aqueles que mais foram vitimizados pela Covid-19 ao longo do último ano, com 87 óbitos, seguidos pelos médicos (51 mortes), profissionais da área farmacêutica (37), da odontologia (24) e cuidadores de idosos (21).

Se fosse levantado o dado motoristas e cobradores de ônibus em todo o Paraná, porém, é possível (quiçá até provável) que essas categorias também entrassem na lista dos mais acometidos pelo novo coronavírus (confira mais detalhes ao lado).

Já entre os trabalhadores da segurança pública, os policiais militares e os bombeiros registram 13 óbitos. Agentes penitenciários/polícia penal aparecem na sequência, com seis registros, enquanto a Polícia Civil acumula quatro falecimentos desde o início da crise sanitária.

Vírus mata mais policiais que confrontos com bandidos

Com relação aos agentes da segurança pública, os números da Sesp-PR sobre óbitos por Covid-19, quando cruzados com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mostram que os policiais do estado já morrem mais por causa do novo coronavírus do que em confrontos.

Entre 2017 e 2019, por exemplo, o Anuário registrou um total de 16 falecimentos de policiais militares e civis no estado em confronto ou por lesão não natural em serviço ou fora dele, sendo que no último ano com dados disponíveis havia sido registrado um falecimento de agentes da lei e no ano anterior, outros seis.
Já o novo coronavírus, em pouco mais de um ano, vitimou 13 policiais militares (incluindo bombeiros) e quatro policiais civis, com um total de 17 mortes nessas corporações. Ou seja, a Covid-19 já mata mais policiais do que a própria bandidagem em três anos. Esta categoria, até pelo tipo de interação social, acaba muito exposta.

Em dois meses, 18 motoristas e cobradores faleceram na RMC

De acordo com o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), até o final de janeiro a categoria acumulava 16 óbitos de trabalhadores da ativa. Nos últimos dois meses, porém, já foram 18 falecimentos.

“Foi gigantesco o crescimento”, comenta o presidente do sindicato, Anderson Teixeira, apontando ainda acreditar que, se levantado o número para todo o Paraná, as categorias apareceriam próximo dos profissionais da linha de frente na saúde. “A gente tem contato com outros sindicatos de transporte e a preocupação é generalizada. Então o número [de óbitos], essa proporção, deve estar junto com médicos e enfermeiros”.

Ainda segundo ele, um dos grandes problemas que os profissionais do transporte público enfrentam é justamente o desrespeito dos próprios usuários às medidas preventivas. “Muita gente não respeita. E também tem o povo que não usa máscara. Eu falo pro pessoal, é pior que o cara que vai te assaltar”, diz.

Pressa

Vacinação já

Enquanto a vacinação entre profissionais da saúde já teve início, entidades ligadas ao transporte público e à segurança pública pressionam para que os governos municipais e estaduais antecipem a vacinação dessas categorias. A Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra), por exemplo, já fez um pedido nesse sentido ao Governo do Estado, bem como o Setransp e o Sindimoc. No caso do transporte público, empresas e trabalhadores estariam estudando ainda a aquisição de imunizantes.

Covid-19 e categorias profissionais

Mortes por Covid-19 entre trabalhadores da Segurança Pública no Paraná
Polícia Militar e Bombeiros: 13
Polícia Civil: 4
Agentes penitenciários: 6
Fonte: Secretaria da Segurança Pública (Sesp-PR)

Mortes por Covid-19 entre trabalhadores da Saúde no Paraná
Enfermeiros: 87
Médico: 51
Área farmacêutica: 37
Odontologia: 24
Cuidador de idosos: 21
Assistência social: 10
Agente Comunitário de Saúde: 9
Área laboratorial/diagnóstico: 9
Psicologia: 8
Administrativa: 3
Serviços: 3
Fisioterapia: 1
Alimentação: 1
Veterinária: 1
Outros trabalhadores: 15
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde (Sesa-PR)

Mortes por Covid entre trabalhadores do Transporte Coletivo em Curitiba
Motoristas: 7
Cobradores: 9
Porteiros: 3
Mecânico: 1
Manobrista abastecedor: 1
Fonte: Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp)