Falta de peças no setor automotivo se arrastará por meses, diz presidente da Stellantis

Executivo afirma que preço ainda é entrave para fabricação de carros elétricos no Brasil

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São Paulo

O problema da falta de peças no setor automotivo não será resolvido tão cedo. Essa é a visão de Carlos Tavares, presidente do grupo Stellantis. O executivo, que veio ao Brasil em plena pandemia para visitar as instalações do novo gigante automotivo, avalia que a escassez de semicondutores fdeve perdurar por todo o ano de 2021.

“A situação vai se arrastar por vários meses, não termina no primeiro semestre”, disse o executivo nesta quinta (11). Ele afirmou que os primeiros sinais de que algo iria dar errado se manifestaram entre setembro e outubro de 2020, época em que a indústria automotiva parecia se recuperar.

Contudo, as empresas que produzem computadores e smartphones foram mais ágeis, e praticamente compraram todos os chips e semicondutores disponíveis. A produção se concentra na Ásia, principalmente em Taiwan.

É para reduzir custos e se proteger de movimentos de mercado como esse que as montadoras e seus fornecedores precisam estabelecer parcerias e fusões. A visita de Tavares ao Brasil é parte desse processo.

Em breve, uma fábrica nacional que produz carros de origem francesa poderá receber um modelo italiano ou um jipe americano em suas linhas de montagem. E vice-versa. A nova dinâmica fabril foi confirmada pelo executivo.

Carlos Tavares, presidente do grupo Stellantis, visita fábrica de motores
Carlos Tavares, presidente do grupo Stellantis, durante visita à fábrica de Betim (MG) - Divulgação Stellantis

Trata-se de uma mudança radical, que faz Tavares demonstrar otimismo apesar de todos os problemas do momento. O tom crítico que costuma acompanhá-lo ficou em Amsterdã, cidade escolhida como sede da empresa.

“A América Latina tem um grande potencial, sempre teve, mas também uma grande volatilidade. Quando passa por um ponto baixo, a etapa seguinte é um ponto alto”, disse o executivo. “O aumento da taxa de vacinação vai, obviamente, melhorar a situação do mercado”.

Tavares veio visitar as fábricas de Betim (MG) e de Goiana (PE), onde são produzidos veículos da Fiat e da Jeep. A unidade de Porto Real (RJ) já era conhecida por ele. Antes de assumir a Stellantis, o executivo presidiu o grupo PSA Peugeot Citroën.

A nova estratégia do grupo está ligada a plataformas, e não mais a marcas. A sinergia permite economizar € 5 bilhões por ano mundo afora, segundo os cálculos da fabricante, que, globalmente, produz 500 mil automóveis por mês. Seria possível, por exemplo, montar carros híbridos e elétricos no Brasil ou na Argentina.

Mas antes de colocar esse tipo de veículo em linha na América do Sul, é preciso haver um alinhamento global de preços.

Tavares diz que, nos patamares atuais, os valores cobrados por carros elétricos os tornam inacessíveis para grande parte da classe média. Se não podem ser adquiridos, o impacto ambiental é pequeno.

Os veículos também precisam ser rentáveis. “Se as margens forem negativas, haverá prejuízo e perda de empregos”, afirma o presidente da Stellantis. “O grande desafio será aproximar os preços para algo perto dos valores cobrados por modelos convencionais.”

O executivo acredita que só o diálogo constante entre indústrias e governos levará a uma solução para as questões ambientais que envolvem a indústria automotiva. Ele disse que isso não vinha acontecendo na União Europeia, o que gerou impasses. Os custos da eletrificação se tornaram proibitivos, e não seria possível seguir adiante sem fusões e ajuda de governos.

Os problemas europeus diferem das questões latino-americanas. O que há em comum são os anseios dos consumidores.

“Não há um só pais do mundo em que eu não veja limitações, cada um tem as suas características. Trabalho nesta indústria há 40 anos e os consumidores sempre querem mais conforto, mais segurança e mais desempenho por um preço cada vez menor. Não há situações estáveis, há sempre um trabalho a se desenvolver”, afirmou Tavares.

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