Marcelo Casall Jr / Agência Brasil

A crise econômica desencadeada pela pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio o mercado de trabalho. Após um 2019 estável, inclusive com alguns sinais de melhora, os dados da PNAD Contínua, divulgados na quarta-feira pelo IBGE, mostram que o Paraná fechou o último ano com aumento expressivo tanto no número de pessoas desocupadas como no de pessoas fora da força de trabalho. Dessa forma, temos atualmente um cenário no qual 45 de cada 100 pessoas em idade para trabalhar estão fora do mercado de trabalho, efetivamente.

De acordo com o IBGE, no Paraná a população em idade para trabalhar somava nos últimos meses de 2020 um contingente de 9,74 milhões de pessoas. Do total dessa população, 5,93 milhões (60,9%) compunham a chamada “força de trabalho”, que nada mais é que a soma de pessoas ocupadas (5,35 milhões ou 54,9% da população total) e desocupadas (578 mil ou 5,9% da população).

Além da população desocupada (popularmente chamados de desempregados: a pessoa que procurou uma vaga na semana de referência, mas não conseguiu colocação), contudo, também temos o grupo de pessoas “fora da força de trabalho”, que são aqueles indivíduos que não estão trabalhando nem procurando emprego. Nesta categoria estão inclusos, dentre outros, os “desalentados” (aqueles que já desistiram de encontrar uma colocação) e a “força de trabalho potencial” (composta por pessoas que não trabalharam nem procuraram trabalho, mas estavam disponíveis para assumir um trabalho caso este fosse oferecido ou surgisse).

No Paraná, a população fora da força de trabalho sempre ficou em torno de 35% do contingente total em idade para trabalhar ao longo da última década. Com a pandemia, porém, esse porcentual chegou a 39,1% no 4º trimestre de 2020, somando 3,81 milhões de pessoas.

Dessa forma, se somarmos a população desocupada com o contingente fora da força de trabalho, temos que 45% da população em idade para trabalhar no Paraná está atualmente fora do mercado de trabalho, efetivamente. O valor registrado no 4º trimestre de 2020 é ainda o segundo maior da série histórica iniciada em 2012, atrás apenas do anotado no trimestre imediatamente anterior, quando 46,6% das pessoas em idade para trabalhar estavam fora da força de trabalho ou desocupadas na semana de referência.

Raio X

População fora do mercado de trabalho no Paraná, em número absoluto
(dados do 4º trimestre de cada ano)

2020: 3,81 milhões
2019: 3,33 milhões
2018: 3,36 milhões
2017: 3,34 milhões
2016: 3,30 milhões
2015: 3,23 milhões
2014: 3,29 milhões
2013: 3,11 milhões
2012: 3,12 milhões

População fora do mercado de trabalho no Paraná, em porcentual
(dados do 4º trimestre de cada ano)

2020: 45%
2019: 40,2%
2018: 40,9%
2017: 41,2%
2016: 41,1%
2015: 39,4%
2014: 39%
2013: 37,7%
2012: 38,5%

Taxa de desocupação*
(médias anuais)

Paraná
2020: 9,4%
2019: 8,5%
2018: 8,8%
2017: 9,0%
2016: 8,2%
2015: 5,9%
2014: 4,0%
2013: 4,3%
2012: 5,0%

Brasil
2020: 13,5%
2019: 11,9%
2018: 12,3%
2017: 12,7%
2016: 11,5%
2015: 8,5%
2014: 6,8%
2013: 7,1%
2012: 7,4%

* Número de pessoas desocupadas dividido pelo número pessoas da força de trabalho
Fonte: Pnad Contínua – IBGE

Desocupação

Taxa média de desemprego é recorde no ano

Além dos dados do quarto trimestre de 2020, o IBGE também divulgou nesta semana a taxa média de desocupação anual ao longo do ano passado. E 20 estados do país registraram recorde no índice, acompanhando a média nacional, que aumentou de 11,9% em 2019 para 13,5% no ano seguinte, a maior da série histórica da PNAD Contínua.

As maiores taxas de desocupação no paíos ficaram com Bahia (19,8%), Alagoas (18,6%), Sergipe (18,4%) e Rio de Janeiro (17,4%), enquanto as menores com Santa Catarina (6,1%), Rio Grande do Sul (9,1%) e Paraná (9,4%).

Embora a situação paranaense seja até positiva comparado com a média nacional, o resultado estadual é também o pior da série histórica. Considerando a média anual de desempregados, temos que o menor nível de desemprego no estado foi registrado em 2014, com 4,0%. Em 2015, porém, a taxa de desocupação já havia chegado a 5,9%, superando a barreira dos 8% nos anos seguintes. 2020, porém, foi a primeira vez que o porcentual de desempregados no estado fica acima de 9%.

Sul tem as menores taxas do País

Os três estados da região Sul apresentaram o melhor desempenho na taxa de desemprego entre as unidades federativas do país em 2020. Rio Grande do Sul (9,1%), Santa Catarina (6,1%) e Paraná (9,4%) respondem pelas três taxas de desocupação mais baixas do Brasil. A média nacional é de 13,5%, segundo o IBGE. “Durante a pandemia, o que se observou em todas as regiões foi um aumento da taxa de desocupação. Porém, essa taxa não subiu tanto nos estados do Sul a ponto de equipará-los aos demais do Brasil”, afirma Patrícia Palermo, economista e professora da ESPM Porto Alegre.

A economista afirma que as razões para o desempenho da região Sul no contexto nacional são anteriores à pandemia de covid-19 e que, historicamente, as taxas de desemprego na região já são mais baixas em relação ao restante do país. “Existem três características próprias da região que nos ajudam a entender esse cenário: pirâmide etária, anos de estudo e distribuição de renda”, afirma.

Para Patrícia Palermo, as três variáveis têm impacto direto na dinâmica do mercado de trabalho regional. “Quando se têm menos jovens na população economicamente ativa, a média da mão de obra acaba sendo de trabalhadores com mais experiência. Além disso, o número médio de anos de estudo na região Sul é um pouco maior do que no restante do Brasil.