País não pode perder o bonde da 4ª revolução industrial

Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, os presidentes da CNI e do Portulans Institute avaliam que investir mais e melhor em ciência, tecnologia e inovação é essencial para o futuro da indústria e da economia

A pandemia da Covid-19 gerou uma das mais severas crises já enfrentadas pela humanidade. O PIB (Produto Interno Bruto) chinês registrou o menor patamar em mais de quatro décadas, com crescimento de apenas 2,3% em 2020, e o alemão pode recuar até 5%. Para retomar trajetórias de crescimento, governos e agências internacionais debatem estratégias ambiciosas, que incluem maior investimento em ciência, tecnologia e inovação, e compromissos rigorosos com sustentabilidade ambiental.

O Brasil também precisa tomar decisões urgentes e ousadas para evitar o agravamento de sua situação econômica, diante da drástica queda do PIB nacional no ano passado que, de acordo com projeções, deverá ser superior a 4%.

Ressalte-se que não foi apenas a pandemia que empurrou a economia brasileira ladeira abaixo. Estudo recente do Portulans Institute, think-thank com sede nos Estados Unidos – elaborado em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) – demonstra que há diversos problemas estruturais que colocam a competitividade do país em xeque. O trabalho revela que uma das principais deficiências é o fato de o Brasil investir 50% menos em inovação que a média dos 47 países avaliados. Consequentemente, se posiciona em patamar inferior (44ª colocação) na comparação internacional.

Denominado Preparando o Brasil para um futuro mais competitivo: um roteiro para a prontidão em inovação, tecnologia e talentos, o relatório reforça pontos já problematizados no âmbito da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). É fundamental, por exemplo, expandir a internet para todo o país e aumentar os investimentos em tecnologias, como 5G e inteligência artificial, com vistas à transformação digital das empresas e sua inserção na Quarta Revolução Industrial.

A aproximação do sistema financeiro– principalmente o que suporta os empreendedores –, dos níveis de sofisticação observados em economias avançadas é apontada como outra providência crucial. Isso implica fazer uso mais ostensivo de mecanismos, como compras governamentais de tecnologia e incentivo fiscal ao investimento privado em startups, como forma de promover atividades de maior conteúdo tecnológico. 

Não menos importante é o investimento na formação e qualificação de recursos humanos, sobretudo para atuar em áreas intensivas em conhecimento. É urgente, ainda, melhorar a qualidade do ensino, desde a educação primária, a fim de preparar os jovens para carreiras científicas e tecnológicas e para a liderança de processos de inovação.

O estudo do Portulans Institute – que apresenta 15 recomendações relacionadas às áreas de inovação, tecnologia, recursos humanos, instituições e infraestrutura –,  deixa claro que o relógio corre contra o Brasil. Se não forem tomadas medidas céleres e coordenadas, o país perderá a capacidade de inovar e reduzirá, ainda mais, seu potencial de competição global. 

Diante desse cenário, o veto do governo ao projeto que determina a proibição de contingenciamentos dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), aprovado pelo Congresso Nacional, constitui um obstáculo a mais para que o Brasil navegue na mesma direção que seus concorrentes. Estima-se que mais de 50% dos R$ 7 bilhões previstos no orçamento do Fundo para 2021 já estão contingenciados.

Vale destacar que, enquanto o Brasil investe cerca de 1% do PIB em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), os países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) investem, em média, 2% da soma total de suas riquezas nessa área. 

Resumo da ópera: investir mais e melhor em ciência, tecnologia e inovação é um fator vital para o futuro da indústria e da economia brasileira. Governo, setor empresarial e comunidade científica precisam, mais do que nunca, estarem juntos na construção e na implementação dessa agenda. O estudo produzido pelo Portulans Institute e pela CNI dá pistas do caminho que o país precisa trilhar para não perder o bonde da chamada Indústria 4.0.

Robson Braga de Andrade é presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Soumitra Dutta é presidente do Portulans Institute e co-fundador da SC Johnson College of Business (Cornell University)

O artigo foi publicado nesta quarta-feira (10), no jornal O Estado de S. Paulo

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