Franklin de Freitas – Rua XV

Num momento em que o Paraná atravessa um novo pico de contaminações e nível recorde de mortes por Covid-19, o isolamento social no estado pouco avançou. Dados da In Loco, empresa de tecnologia que mede o Índice de Isolamento Social no Brasil a partir dos dados de geolocalização de celulares, mostram que na última semana, a primeira com Curitiba e outros municípios da região metropolitana supostamente em lockdown, o índice de isolamento social no estado ficou próximo de 37% (média móvel), quando o ideal seria um índice superior a 50%.

No domingo (21 de março), por exemplo, a média móvel (que considera os dados dos sete dias anteriores) do isolamento social no estado estava em 37,27%. Nas semanas anteriores, o índice variou entre 34,31% e 37,31%, mantendo-se em um nível relativamente estável desde o início de fevereiro, a despeito da escalada pandêmica. Somente aos domingos, quando tradicionalmente já há menor circulação de pessoas, tem-se registrado isolamento superior a 50%.

Em Curitiba, o cenário registrado ontem pelo Bem Paraná na região central da cidade ilustra bem a situação. No meio da tarde, a movimentação na Rua XV, uma das principais vias curitibanas, era intenso. Além de não manter o distanciamento recomendado, não eram poucas as pessoas que insistiam em transitar sem máscara, mesmo já tendo se passado mais de um ano de pandemia e com o país estando próximo de alcançar a trágica marca de 300 mil mortes por Covid-19.

A não adesão da população às medidas preventivas, inclusive, tem servido de justificativa para governantes que não querem prejudicar a economia em prol da saúde. O governador Ratinho Junior, por um exemplo, tem insistido que não é uma medida unilateral do governo que vai resolver a crise sanitária.

“Quando em dezembro determinamos a restrição de horário à noite, conseguimos reduzir em 45% o número de acidentados nos hospitais, liberando profissionais da saúde para o atendimento de Covid. Foi uma medida acertada, tanto que vários estados copiaram. Mas nos 10 dias de restrição maior conseguimos só 34% de isolamento, enquanto o ideal seria entre 50 e 55%. Ou seja, o comércio foi prejudicado e não adiantou nada”, declarou na última semana o governador.

O problema, no entanto, é que o distanciamento (sempre) e o isolamento social (na medida do possível) são ainda as únicas forma de prevenção de contágio e controle da pandemia, alertam as autoridades desde o início da pandemia. E num momento em que o sistema de saúde está em colapso, é fundamental que a população entenda a importância de seguir as recomendações da ciência e as normativas municipais e estaduais que procuram desacelerar a escalada da crise sanitária, explicam as autoridades sanitárias.

Médicos defendem distanciamento de 70% para conter infecções

Embora o governador Ratinho Junior e a Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa-PR) defendam que o ideal seja um índice de isolamento social superior a 50%, o Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná (Simepar) sugeriu, em carta endereçada aos governos municipais e estadual, a adoção de medidas que garantam um índice de isolamento social superior a 70% no estado.

No documento, divulgado na última semana, os profissionais da saúde defendem critérios rígidos de lotação dos transportes públicos, restrição no funcionamento das atividades não essenciais e a realização de uma campanha de conscientização da população em geral, entre outras medidas.

Curitibana conta como foi o ‘fecha tudo’ na Itália

A curitibana Veleda Astarte Müller, de 27 anos, mora desde o ano passado na Itália, mais precisamente em Milão, na região da Lombardia, onde começou o surto da doença no país europeu. Por isso, acompanhou de perto a imposição de medidas restritivas, medidas essas que foram muito mais duras do que aquelas adotadas até aqui por qualquer município brasileiro. Em Curitiba, o lockdown é parcial, já que supermercados, padarias e postos de combustível funcionam.

Segundo Veleda, tão logo foi decretado lockdown na Itália, todo o comércio teve que fechar as portas, com exceção dos mercados e farmácias. Além disso, a polícia começou a monitorar as ruas. “As pessoas passaram a ser multadas em caso de estarem fora de casa sem motivos especiais. Todas as atividades de risco também foram proibidas para que os profissionais da saúde pudessem se dedicar inteiramente aos doentes do coronavirus”, conta ela ao Bem Paraná.

“Qualquer aglomeração ou mesmo duas pessoas caminhando a menos de 1 metro de distância poderia gerar multas pela polícia, que volta e meia também passava para dispersar e mandar as pessoas para dentro de casa.”