Descrição de chapéu copom juros Selic

Setor produtivo diz que aumento forte de juros pode ser precipitado

Estimativas de inflação perto de limite da meta colocam pressão sobre o Banco Central

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São Paulo

O risco de estouro da meta de inflação deste ano entrou no radar dos investidores. Muitos economistas, no entanto, avaliam que o repique dos índices de preços ao consumidor é temporário e não demanda uma ação do Banco Central neste momento de incertezas sobre os impactos da pandemia na economia brasileira.

A preocupação com a alta de juros se dá principalmente no setor produtivo, que vê riscos de uma piora na situação financeira de empresas e famílias, inclusive com risco de aumento da inadimplência e cortes de investimentos.

O Boletim Focus do BC publicado nesta semana mostra que as projeções dos economistas consultados são de um IPCA (índice oficial de inflação ao consumidor) de 4,60% neste ano. Entre as cinco instituições com maior percentual de acerto nas projeções, a estimativa é de 5,12%. A meta de inflação é de 3,75%, com intervalo de tolerância de até 5,25%.

Nesta quarta-feira (17), o Copom (Comitê de Política Monetária) discute uma possível elevação da taxa Selic, atualmente em 2% ao ano. A expectativa majoritária no mercado financeiro é de uma alta para até 2,75%, chegando a 4,5% no final do ano.

“Se o Banco Central é independente de verdade, não precisa dar satisfação ao mercado. Aumentar muito os juros agora é desnecessário. A inflação vai cair. Pode subir 0,25 [ponto percentual] agora, esperar e, talvez mais 0,25 depois para mostrar que está atento à inflação”, afirma Carlos Thadeu de Freitas, chefe da Divisão Econômica da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

Para o economista, que já foi diretor do BC, é provável que o IPCA fique próximo de 5% neste ano, mas a expectativa é de queda em 2022, em um cenário em que a inflação de serviços continuará baixa por conta da falta de demanda.

Freitas afirma que, em 2020, o auxílio emergencial contribuiu para que houvesse repasses dos preços do atacado para o varejo, mas que o valor previsto para o benefício neste ano representa pouco mais de 2% das vendas do varejo.

“É necessário subir um pouco os juros para o BC mostrar que está atendo, para que a inflação não fuja do controle, mas o governo tem de ser expansionista, não pode ser contracionista. Em outros países, o juro vai ficar baixo.”

Jonathas Goulart, gerente de Estudos Econômicos da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), afirma que o Brasil vive um novo pico de casos de Covid-19 que está fazendo com que a atividade econômica mostre novamente sinais de fraqueza e deve impedir mais repasses de pressão de custos para os preços ao consumidor.

Para ele, enquanto não houver clareza sobre o que está acontecendo na economia real, qualquer decisão de aumento de juros pode ser precipitada. Por isso, seria melhor que o BC esperasse mais tempo para avaliar o cenário.

“A gente está em um período de pandemia, não sabe bem quais serão os efeitos dessa segunda onda. É preciso entender se aumento de inflação de custos vai ser repassado para a economia como um todo”, afirma.

“Com os últimos dados mostrando que a recuperação econômica está arrefecendo, é o momento de manter ainda uma política monetária que favoreça a expansão da atividade.”

O economista Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp, diz que um aumento de juros contraria a própria lógica do regime de metas, uma vez que não há pressão de demanda e é grande a ociosidade de fatores de produção, com capacidade ociosa na indústria e desemprego elevados.

“Subir os juros é uma decisão frágil. Você está considerando um choque de custos que já aconteceu, que vai se dissipar, e está ignorando um choque [negativo] de demanda que está vindo por conta do agravamento da pandemia. Você está olhando para trás, não está olhando para a frente”, diz Rossi.

Para ele, a única justificativa para subir juros seria uma tentativa de buscar uma valorização do real frente ao dólar, algo que também estaria em desacordo com o regime de metas. Além disso, possivelmente não daria resultado, dado que o principal determinante da flutuação do dólar em relação ao real é o cenário externo e os fatores internos são super-dimensionados, segundo o economista.

Rossi afirma que a moeda nacional tende, historicamente, a se desvalorizar mais do que as outras divisas emergentes em períodos de incerteza, assim como tende a ganhar mais valor nos períodos de bonança, principalmente por causa da falta de regulação do mercado de câmbio no Brasil.

“O mercado acha que o juro real positivo é um direito e uma condição que deve ser respeitada", afirma. "O que sobra é isso, uma reivindicação do mercado [de aumento de juros] que me parece sem justificativa. Tem gente que atribui inflação a política fiscal ou aumento de risco, o que não tem nenhum sentido.”

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